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A MENINA POBRE QUE NÃO TINHA SONHOS

 

 

A Menina pobre que não tinha sonhos..

Por Alice Vieira

 

A pobre menina se lembra que tinha por volta de 5 anos, talvez menos, quem sabe? Ela não sabia que era infeliz, não tinha noção de tempo nem espaço, era ingênua, pequena demais para se preocupar com seu futuro, aliás ela não tinha sonhos.  Só sofria com seu presente, isso ela tinha consciência que era tudo de ruim, menos o que ela queria para si mesma.

Era pobre demais para se dar ao luxo de ter um brinquedo, sua mãe, lavadeira de roupas para os mais abastados, do pequeníssimo vilarejo do interior de Minas Gerais. Queria ter um brinquedo para brincar nem que fosse sozinha mesmo, não tinha coleguinhas, nem sua irmã lhe servia de companhia, as condições não davam para comprar nada, carinho?

Carinho… Era uma coisa que nunca recebia de ninguém, ela também se lembra que sua mãe quando tinha tempo, que era coisa rara, fazia bruxas de pano, era como ela chamava as bonecas que a mãe fazia a mão mesmo.

 

 

Os cabelos eram compridos de fio de corda e ela odiava aquelas bonecas, quando estava revoltada, as pegava pelas pernas e batia contra o portal da porta, até que elas esvaziassem seu enchimento, como se tivesse batendo em seu pai e também em sua mãe com muita raiva, só que isso ela não entendia, eram atos inconscientes, o significado, nem psicólogo tinha por lá, e se existisse, eles jamais poderiam pagar, mas era o caso de se tratar urgente.

Ela era uma criança difícil, pirracenta, agressiva, mal criada, ela rolava lá fora na poeira até ficar marrom, os cabelos ficavam duros de fazer dó, ela que era escurinha, ficava meio que o preto no marrom, e chorava da manhã até a noite, ficava com a aquela poeira no rosto, e escorria as lágrimas que se notava aquele risco no rosto, ela se queixava de dor de cabeça de tanto chorar, e quanto mais a mãe batia, mais ela rolava no chão para fazer raiva na mãe.

Ela era a segunda de 3 filhos, e a mãe à espera do 4º filho, e conforme ela crescia a mãe continuava tendo filhos até chegar ao 7º, era uma vida miserável, de muita pobreza, mas ela não tinha sequer consciência disso. Seus pais eram semianalfabetos, não tinham perspectiva de vida melhor nem naquele lugar, nem em lugar nenhum praticamente.

 

 

Seu pai quando conseguia, trabalhava em uma olaria do lugar, ficava mais desempregado do que trabalhando, fora isso, era um tremendo jogador de baralho, virava a noite no jogo que perdia até as calças, mas não desistia daquele ofício horroroso, quando perdia chegava em casa com uma cara amarrada, mal humorado, brigava com sua mãe, e com ela.

A pobre coitada da menina, que já o enfrentava, respondendo mal, ela odiava seu pai, porque ela via que ele maltratava sua mãe, apesar dela ter raiva da mãe quando lhe batia, com chinelos, varas, cintos, o que encontrasse pela frente, mas ela provava que amava a mãe quando via que era maltratada pelo pai.

O pai também batia muito nela, a deixava com as pernas todas cheias de vergões pelas chicotadas. Sua irmã mais velha, era a queridinha da mãe e também do pai, a menina observava que sua irmã nunca apanhava, era calma, ficava sempre quieta quando via aquelas confusões, era muito bonita, parecia uma boneca, tinha pele branca, cabelos bons, não eram como os seus.

A menina se sentia muito feia, muitos diziam a ela, ¨você é muito feia¨, porque era preta como o pai, tinha os cabelos crespos, que a mãe a chamava de nega do cabelo de arapuá, e ela odiava aqueles apelidos, nem sabia o que significava, mas sabia que era algo ruim, que a denegria.

Seu irmão abaixo dela também pouco apanhava, era claro de pele, portanto, para ela era bonito, ela se sentia a pior de todos, porque era quem apanhava, quem nunca era compreendida, nenhum deles tinham brinquedos, isso ela reconhecia, mas os maus tratos é que eram diferenciados, com ela tudo era o extremo.

 

 

Então, cresceu uma pessoa com vários tipos de complexos, de inferioridade, de que ser de cor parda como estava em sua Certidão de Nascimento significava ser excluída, ser do mal, ter poucas possibilidades, ter muitas limitações pela vida afora.  Enfim, pessoa de caráter difícil, não aprendeu ter sonhos, não aprendeu a planejar seu futuro, era como uma planta, cresceu vivendo cada dia como viesse, nunca recebeu estímulos e sem rumo, sem auto estima, sem perspectiva de vida.

O que notei na história dessa menina faltou o amor, o aconchego, a compreensão mesmo na pobreza, ela queria um pouco de carinho, precisamos desde pequenos, para compreendermos que mesmo no sofrimento.

Precisamos tirar as lições que nos favoreçam positivamente para nossa evolução, e que o sonho mesmo pequeno é importante que tenhamos, precisamos ser incentivados a sonhar, sonhos grandes e sonhos pequenos, caso contrário, se corre o risco de passar a vida, apenas como uma planta, ou tendo uma vida de sofrimento ou medíocre.

 

 

Nossa inteligência precisa ser exercitada todos os dias, colocando planos, pensamentos positivos, idealizando sonhos, ainda que eles demorem a acontecer.

Pessoas para terem uma vida de vitória, um futuro definido, é preciso pelo menos que sonhemos em realizar algo sempre, caso isso não aconteça, não teremos forças para realizarmos algo que nos faça dar sentido a nossa vida, ter vitórias faz parte de nós, realizado um sonho, é preciso comemorar e idealizar outros sonhos. Praticarmos a autoestima e a gratidão todos os dias.

 

 

 

Alice Vieira, 69 anos, tenho 2 filhos e 3 netos, Pedagoga, Psicopedagoga, Coach de relacionamento,

com especialização. Atuo tanto no âmbito familiar, pessoal, educação de filhos, área profissional e financeira.

E-mail: Alicev604@gmail.com

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