ENVELHECIMENTO NA GUERRA ENTRE A RÚSSIA E UCRÂNIA
A face do envelhecimento na Guerra entre
Rússia e Ucrânia
Há mais de uma semana, o mundo inteiro assistia ao vivo os primeiros ataques da Ucrânia pela Rússia. Ao longo das primeiras horas de conflitos, testemunhamos ataques de mísseis, invasões por terra, comboio de tanques, civis mortos e destruição de cidades. Um outro lado ainda mais cruel em toda a história eclodiu: as narrativas por trás de cada vítima, sobrevivente, refugiado e idosos nesse conflito.
Na Rússia, Elena Osipova, artista, 77 anos e sobrevivente do Cerco de Leningrado foi presa durante um protesto no país, contra a guerra da Ucrânia. Ela portava cartazes criticando o uso de armamentos nucleares.
Alguns dias atrás, a grande imprensa noticiou a decisão do governo Ucraniano em armar civis, como meio de reforço às estratégias defensivas das forças armadas do país. A matéria, era ilustrada com a imagem de uma mulher de 79 anos, participando do treinamento voltado para estes civis em Mariupol, na região de Donetsk, Ucrânia.
Um outro registro que chamou atenção do público, foi realizado pela influencer ucraniana Kateryna Yushchenko onde mostra o exato momento em que um idoso, que teria 80 anos, alistou-se para enfrentar as tropas da Rússia, que invadiram várias cidades na Ucrânia.
Segundo Kateryna, o novo combatente, não identificado, levou na mala duas camisas, uma calça, escova de dentes e alguns sanduíches. Sua decisão de participar dos confrontos era ir à luta “pelos netos”.
Esses relatos, demonstram diferentes faces do envelhecimento neste momento de conflito no leste Europeu, sobretudo nesta região. Noticiamos relatos de idosos que não deixarão suas casas, outros que tentam cruzar as fronteiras de países vizinhos. Existem aqueles que foram “lutar por suas famílias, outros que vão para as ruas lutas por seu país.
A situação aquece o debate sobre o envelhecimento populacional e sua representatividade social. A pauta sobre o envelhecimento ativo, condições de envelhecimento saudável e assistido, políticas públicas e sobretudo “capacidade funcional”, se tornam centro das atenções. Os números demonstram esse cenário de contraste demográfico: estimativas apontam que a população idosa representará 28.42% da população de Ucrânia em 2059
Para garantir a defesa do Estado, mantendo a prontidão ampla de combate e movimentação das forças armadas da Ucrânia e outras formações militares, o país se viu forçado a decretar a Lei Marcial, onde homens de 18 a 60 anos não podem mais sair do país.
Atualmente, composto por uma parcela significativa de homens com mais de 50 anos, o país recai sob o discurso do envelhecimento e capacidade funcional.
O conceito de “capacidade funcional” faz um contraponto em relação à idade cronológica, ou seja, a vitalidade, disposição e produtividade são elementos qualitativos na avaliação do “ser capaz”. O conceito ainda, pode ser avaliado sob dois pontos de vista: o primeiro relacionado às atividades básicas da vida diária (autocuidado), e o segundo as atividades instrumentais da vida diária (participação na vida coletiva).
Fato que uma situação de guerra, não está englobada em nenhuma das duas esferas, mas vale ressaltar a percepção que se tem sob o ponto de vista prático da velhice. Corroborando com essa percepção, em uma rede social, o ministro da Defesa da Ucrânia, Alexei Yurievich Reznikov, convocou os cidadãos maiores de 60 anos “que estejam mental e fisicamente prontos a resistir e vencer o inimigo”.
A reflexão que fazemos é: cidadãos que têm entre 20 e 40 anos são questionados sobre suas condições de resistência? Será que esta fala endossa um viés inconsciente de etarismo, onde os idosos são menos capazes? Bom, de pronto podemos afirmar que não é o que estamos acompanhando pela mídia: muitos idosos lutando e se manifestando dentro de suas respectivas realidades.
Mas, para além da destruição que se vê no presente conflito e sob o ponto de vista populacional, quais serão os impactos dos conflitos para a expectativa de vida dos Ucranianos? Como será a qualidade de vida no país após o término dos combates? O que esperar de políticas públicas para reconstruir um país que está envelhecendo? Ainda que as respostas sejam incertas e nebulosas, esta é uma pauta indefectível para a Ucrânia.
Nathália Crispim,
Pedagoga formada pela UERJ,
Especialista em Educação Corporativa (UERJ) e
Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial (COPPE UFRJ).
Mestranda em Engenharia de Produção na UFRJA
Ativista do Movimento #StopIdadismo
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