A VIAGEM POR APARECIDA CAMILO
A Viagem
Nunca tive medo da morte. O que sinto em relação a esse acontecimento, é de que não passa de uma bela desculpa para que partamos sem sermos impedidos por aqueles que amamos e nos ama. Concordo com Mário Quintana: “Morrer, que me importa”? É a única certeza que temos na vida, de que um dia deixaremos aquele amigo esperando, por aquele café marcado em uma bela tarde de verão, a mãe esperando com o almoço na mesa, ao voltarmos do trabalho, o filho na visita de domingo para compartilhar conosco alguns momentos, entre um beijo na testa e aquele abraço apertado, as brincadeiras faladas, entre o riso compartilhado.
Sim, eu acredito numa vida pós-morte, e por essa razão sentirei saudades de todos que fizeram parte de minha vida terrena, e principalmente daqueles a quem o meu amor abraçou, mas não chorarei, pois ouvi falar que do outro lado não terá mais choro nem dores, ainda bem, pois tenho pânico de dor.
A morte é onde mora a saudade daqueles que deixamos ou partiram, para um plano que sem dúvida a depender do que fizemos nesse plano terreno, será bem melhor ou não, plano esse por nós desconhecido, ainda.
Fico então a imaginar se depois de tudo que vivemos e/ou fazemos se deve chegar a um lugar bem melhor que ultrapassa toda e qualquer experiência, em um mistério que vai além de nós mesmos, será que haverá barcos, praias e mares?! Os pássaros a cantarem, a brisa acariciando nosso rosto numa carícia pura e incomparável?! Diferente deste plano atual?!
Onde deambulamos aqui e ali, em busca de algo que possa nos preencher com o erudito e sublime?! É uma pena essa vida ser somente isso, buscas acorrentadas pelo o querer individual.
O que direi quando chegar a hora de eu partir?! Terei tempo de falar alguma coisa?! Direi ao meu filho que eu o amo e que esse amor transpor-se-á a eternidade?! Aos meus amigos que todos foram o meu equilíbrio enquanto por aqui passei?! E que existe algo lindo de cada um, os quais chamei de amigos?! E que eles me desculpem por alguma palavra mal dirigida, que os possa ter-lhes feridos?! Mas que nesse momento, eu não posso fazer nada para remediar tal situação?!
Que a solidão na ausência dos mesmos me deixou a alternativa de me recolher para não os perturbarem?!
Porém tenho medo de que ela se demore mais do que o suficiente. Bom mesmo era se depois de detectada, ela se fizesse sem dores e silenciosa, no meio de todos que amo de todo meu coração, em meio à visão de uma beleza ímpar, por essa razão sou a favor da eutanásia. Pois as dores que deveríamos sentir fossem só aquelas as quais damos vida a outro ser que geramos em nosso ventre, por sabermos que estamos criando vida através da nossa.
Dentro de toda e qualquer doutrina cristã estudamos sobre um anjo de guarda que nos cuida com zelo e carinho, nos livrando de todas as ciladas ocultas. Seria isso verdade?! Caso seja espero que o meu segure firme minhas mãos e me conduza, para minha verdadeira morada, ao som de Catedral, pois que essa música de Zélia Duncan reflete toda minha vida, quando por aqui passei, e ao caminharmos, que eu reverencie a vida e compreenda, o que a define, mas seria quase impossível, pois nem mesmo os maiores estudiosos de nossas ações conseguiram tal intento, e assim seríamos como um corpo de cigarra que canta a alegria até se esvaziar?!
Ou ouviríamos uma voz nos ordenando. Liberta-te! E assim a morte me libertaria das correntes do querer, e com a sabedoria das águias, eu compreendesse que a vida é que dá lugar à morte?! Ou a morte é que dá lugar à vida?!
Aparecida Camilo , Advogada atuante e Pós-Graduada em Língua Portuguesa, durante seu tempo por aqui entre todos que denominamos humanos, sempre lidou com pessoas. Não seria diferente a escolha de sua profissão. Trabalhou pouco em sua vida, mas sempre gostou de estudar e estudou um pouco. Não saberia dizer em que idade se encontra, pois tem dia que vive a sapiência e o silêncio dos 100 anos, outro vive o glamour dos 20, outro a introspecção dos 40, e ainda tem aquele dia que ela vive somente a teimosia dos 5 anos de idade, em seu Registro de Nascimento consta que ela completou 54, com gratidão a este Universo tão vasto e bonito que nos faz sonhar e esperançar, que chamamos Deus e vive sempre com as possibilidades que a vida apresenta, o seu lema é: viver um dia por vez, aprendizado que obteve ao longo de sua vida e espera ainda viver na serenidade.
E-mail: aparecidacamilo@hotmail.com